2.1 - SÉRIE HISTÓRICA COMPARATIVA DAS ECONOMIAS BRASILEIRA E GAÚCHA (1947-2001)

A economia gaúcha apresentou um desempenho muito bom ao longo do século XX. Podemos observar nesta Série Histórica Comparativa das Economias Brasileira e Gaúcha (1947-2001), que o desempenho de nossa economia foi marcadamente similar ao desempenho nacional. As diferenças são, antes, qualitativas do que quantitativas. Em particular, é de se notar que a partir dos anos 80 o PIB agrícola nacional cresce de forma significativamente mais acentuada do que o PIB agrícola gaúcho. Já o contrário manifesta-se com a Indústria: a partir do mesmo período, a indústria gaúcha mostra um dinamismo maior (malgrado dois anos de exceção: 95 e 96). Por sua vez, o PIB serviços vem apresentando uma performance similar, no Brasil e no RS.

Estas diferenças nas dinâmicas dos PIBs agrícola e industrial do Brasil e do RS são muito importantes. Desde logo, elas confirmam o grave problema do desenvolvimento das desigualdades regionais no interior do RS. O que cresceu acima da média nacional no RS foi a indústria; donde, foram as regiões industriais que cresceram acima da média nacional. O PIB agropecuário gaúcho cresceu menos do que o PIB agropecuário do Brasil, e menos do que o PIBs totais do Brasil e do RS; donde se conclui que as regiões gaúchas cuja economia se assenta na agropecuária cresceram, em média, menos do que Brasil e significativamente menos do que as regiões gaúchas cujas economias se assentam na produção industrial e/ou nos serviços. Aqui já se revela o drama da Metade Sul e de parcela expressiva do Norte.

Tão importante quanto esta constatação é outra, bem mais sutil, que se deriva da análise estatística das interações entre os setores no RS. Utilizando-se da metodologia de Granger, os consultores estatísticos concluíram que a dinâmica da agropecuária não influencia a dinâmica da indústria e/ou dos serviços no RS no curto prazo (defasagem de um ano). O contrário é verdadeiro: quando crescem, seja a indústria, sejam os serviços, cresce o valor agregado bruto da agropecuária. Por fim, a dinâmica da indústria não causa (de acordo com Granger) a dinâmica dos serviços; porém quando os serviços crescem (decrescem) é de se esperar que a indústria cresça (decresça) no período subsequente.

É de se notar que estes resultados são consistentes com o fato da dinâmica da indústria e dos serviços no RS ser superior à dinâmica da agropecuária: nossa indústria cresceu acima da indústria nacional a despeito de nossa agropecuária ter crescido abaixo da agropecuária nacional. Mas emerge aqui, uma informação nova: a indústria não causa serviços, mas os serviços causam a indústria e a agricultura. E como os serviços crescem menos do que a indústria pode-se inferir que o desempenho medíocre (ou, se se preferir, "dentro da média") dos serviços gaúchos estejam operando como "gargalo" para nosso desempenho industrial e agrícola.

Caberia uma investigação aprofundada destas relações a partir da abertura dos três segmentos, com vistas a identificar quais os serviços que apresentam maior capacidade estimuladora sobre a indústria e a agricultura. Porém, algumas hipóteses já podem ser levantadas em função de outros estudos levados a cabo pelo Grupo de Trabalho do Marco Referencial na SCP1. Pensamos aqui naqueles estudos que têm revelado a profunda dependência da economia gaúcha vis-à-vis seus mercados externos (resto do Brasil e exterior). Esta dependência não expressa mais do que o fato da dinâmica de apropriação de rendas pela indústria e pela agricultura gaúchas ser dependente da conquista de maiores e melhores fatias dos mercados externos. E a conquista de maiores e melhores fatias de mercados externos é altamente dependente da qualidade de nossos serviços de comércio, de transporte, de apoio logístico, de financiamento, de propaganda e marketing, de consultoria e gestão (inclusive em B2B), de P&D, design, etc. Apoiar o desenvolvimento destes serviços, parece ser estratégico para nosso desenvolvimento econômico.

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1 - Que resgatou e sistematizou as informações sobre a economia gaúcha recentemente disponibilizadas pelo IBGE (mormente, em função do Censo Demográfico 2000) e pela FEE (mormente em função da MIP).

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